sábado, 22 de dezembro de 2007

Teliana Pereira Sonha Com top 100 e Reclama: "Tênis é Machista"

Teliana Pereira Sonha Com top 100 e Reclama:

"Tênis é Machista"





22/12/07
Por Breno Menezes
Especial para tenisbr@sil




Teliana vibra na trajetória em Campos
Empolgada com o posto de número do 1 do Brasil e com a boa ascensão em 2007, Teliana Pereira não faz planos pequenos para a próxima temporada. Mesmo ainda distante, para ela é hora de ir mais longe e ingressar no grupo das 100 melhores da WTA. Pernambucana de nascimento e radicada em Curitiba, a tenista de 19 anos traça metas ousadas e espera, por exemplo, ter ranking suficientemente bom para jogar o US Open.

Em entrevista a tenisbr@sil, Teliana, que atingiu o top 200 em outubro e terminou 2007 como 218 do ranking após largar apenas como a 604ª, conta com orgulho sobre a temporada em que finalmente deslanchou, com a conquista de seus primeiros títulos em torneios de US$ 25 mil. Só lamentou o cansaço pelo longo trabalho, que fez com que o desempenho fosse abaixo do esperado justamente na reta final do circuito, quando defendia pontos de 2006.

Mais ainda, mostra personalidade forte e não poupa críticas tanto à imprensa do país como ao próprio esporte, ao chamar o tênis de machista. Para ele, o pouco investimento que há ainda vai para o circuito masculino, mesmo após ano superior das meninas. Por fim, fala sobre ídolos, experiências em Grand Slam (como juvenil) e sobre a polêmica decisão de Jenifer Widjaja de se retirar do tênis.

Teliana, qual é a importância de ser a número 1 do Brasil?
Teliana - Era um sonho ser a número 1 de um país enorme. Foi resultado de muito trabalho, não só meu, mas também do (técnico) Didier Rayon, que esteva sempre comigo e perto da minha família. Foi sem dúvida uma realização. No começo do ano tinha colocado isso como objetivo e consegui. Então posso falar que 2007 foi o melhor ano da minha carreira, ganhei torneios profissionais pela primeira vez, então só posso dizer que estou bem feliz.

O tênis feminino foi melhor que o masculino nesta temporada. Por que você acha que não há o devido reconhecimento?
Teliana - É um meio machista, onde tudo que é de melhor vai para o masculino. Não temos top 100 há muito tempo, mas quando você olha na internet as notícias são sempre para eles. E você lê sobre o Saretta caindo, vários que despencaram (no ranking). O importante é que as meninas estão treinando, estão se dedicando e daqui a uns dois anos vamos ter tenistas no topo. Meu objetivo pro ano que vem é ser uma top 100. A Roxane (Vaisemberg) também está bem e a Nanda (Alves) está há muito tempo dando duro.

Apesar das dificuldades, o balanço da temporada pode ser considerado bom?
Teliana - O saldo foi positivo, foi um bom ano. No começo de 2007 fui jogar em Portugal, comecei mal, torci o pé, depois voltei e comecei a jogar os torneios na Europa. Ganhei o primeiro torneio na Grécia, depois em seguida na França e Itália. Tenho um pouquinho de dificuldade de fazer uma seqüência. Não consigo fazer mais do que quatro torneios, começo a ficar um pouco cansada. E realmente ali eu me surpreendi, mas porque eu estava com um foco muito grande. Ganhei em Campos do Jordão, que sempre gostei de jogar, mas nunca tinha conseguido um bom resultado. E em seguida venci em Bogotá. Só que realmente sinto que pequei agora no finalzinho. Estava jogando mal, cansada. Poderia ter conseguido um pouco mais. Mas vou começar o ano que vem feliz e querendo fazer mais. Tive uma boa projeção no ranking, mas a cada dia você tem que pensar em metas maiores.

Como você avalia a decisão da Jenifer Widjaja em abandonar o tênis profissional para estudar e jogar nos Estados Unidos?
Teliana - Respeito a decisão dela. Ela desistiu por que tinha a meta de ser top 100 e como não conseguiu, decidiu parar. Mas também tenho certeza de que faltou apoio - o tênis é um esporte muito caro, se você não tem ajuda, não tem como ficar se bancando. Eu, no começo do ano, pagava minhas despesas com todo dinheiro que ganhava. Depende muito da índole da pessoa - não estou falando que não ela não foi guerreira - ela foi, mas podia ter lutado mais, ela é muito nova. Ela falou que vai estudar, que ela sempre gostou...Espero que ela seja feliz.

Você algum dia faria a mesma coisa?
Teliana - Eu não faria isso. O tênis é a minha vida, vou lutar até chegar em ponto em que não tenha mais condições de me manter.

E o planejamento para o próximo ano?
Teliana - Eu pretendia começar com o Aberto da Austrália, que seria meu primeiro Grand Slam, só que como neste ano joguei muitos torneios, fiquei cansada, e a pré-temporada é muito importante. Se fosse jogar na Austrália eu não poderia fazer a pré, não teria descanso. E na verdade preciso fazer um calendário baseado no ano e não em um torneio. Então devo começar o ano com a Fed Cup, me preparando no final de janeiro, e depois pretendo jogar o circuito da WTA, grandes torneios, mas mantendo também os challengers. É legal você jogar essas competições, só que você precisa ter uma base. Meu objetivo é jogar o US Open. Acho que o importante é saber como você está jogando, como você está mentalmente - os resultados são conseqüência. Em Roland Garros e Wimbledon pretendo jogar o quali, mas até o US Open espero estar com ranking pra entrar na chave principal.

Você pensa em Olimpíadas?
Teliana - Seria uma competição bem-vinda, ainda não sei como funciona em termos de ranking, mas está nos planos. A experiência no Pan-americano, por exemplo, foi ótima, a convivência com grandes atletas foi especial, me deu mais experiência.

O momento do tênis brasileiro é muito ruim. Por que acha que existe essa queda?
Teliana - Acho que a organização não é uma das melhores na CBT, falta muita coisa, apoio. No tênis feminino a gente não tem nada - não sei como é no masculino, mas pelo que li na entrevista do Thiago Alves, ele falou muito mal - tem muitas coisas que podem melhorar. Falta mais envolvimento, mais acompanhamento. Mas, ao mesmo tempo, é fácil você chegar e dizer: "Estou mal porque não tenho apoio". É cômodo a pessoa colocar a culpa na outra e falar "por isso não ganho". Prefiro jogar bem e quando estiver lá em cima mesmo, aí sim vou reclamar, dizer o que está.

O tênis, não apenas no Brasil, está vivenciando um momento tenso com as denúncias de acertos de resultados. Você já ouviu algo a respeito?
Teliana - Nunca fiquei sabendo sobre nada disso no circuito da WTA. No masculino, a cada dois dias aparece algo. É muito ruim pro tênis, assim como o doping também... O caso da Martina Hingis, por exemplo. Não estou dizendo que não tenha (manipulação de resultados), mas se existe no masculino pode acontecer no feminino, mas até agora não aconteceu nada que eu saiba.

A experiência na base ajudou a conhecer alguns ídolos, houve troca de experiência?
Teliana - Como juvenil joguei três Grand Slam e você acaba tendo um pouquinho de contato com grandes tenistas. É legal, pois você está almoçando e está a Venus Williams do seu lado, o Federer do outro...Reparei bastante na Justine (Henin), ela está sempre muito focada, tem uma intensidade enorme. É um exemplo de pessoa, sou muito fã dela. Aí tem a Sharapova e a Jankovic, mais vaidosas, o Roddick, que é brincalhão, o Federer mais na dele... Acho que uma mistura de Sharapova com Justine daria uma jogadora excepcional.

Por fim, como está sua relação com patrocinador e lugar para treinar?
Teliana - Já faz muito tempo que estou com o Instituto Tênis, desde que tinha 12 anos. E agora eles estão dando uma renovada, o que é muito importante, já que o tênis feminino não tem nenhum patrocínio ou apoio. Agora posso fazer meu calendário, sem me preocupar se vou ter dinheiro pra viajar. Eles estão criando novos objetivos e com o incentivo da Credicard Citi vai melhorar bastante, vou poder viajar tranqüila, porque em vários torneios fiz meu calendário, mas acabava não indo por falta de dinheiro. Eles vão me apoiar bastante. Só tenho a agradecer.



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