sexta-feira, 23 de novembro de 2007

Explosões de McEnroe: o espetáculo tem de continuar

Explosões de McEnroe: o espetáculo tem de continuar



22/11/07



Big Mac faz seu show em Liege
Londres (Inglaterra) - Famoso no auge da carreira pelos shows de descontrole que dava em quadra, John McEnroe continua aprontando no circuito de veteranos da ATP. Às vezes, de forma justificada, às vezes, como parte do show que se espera dele. O americano entende que construiu uma imagem ao longo dos anos e que o público e promotores pagam para ver seu ídolo dar espetáculo.

Na Bélgica, no começo de novembro, na penúltima etapa realizada, Big Mac se irritou desde a chegada. Pensou que jogaria em Bruxelas, mas o torneio era em Liege. Pensou que ficaria em hotel próximo da quadra, mas era distante. Sem falar nos efeitos do fuso horário e nas dores que sentia nas costas. Para culminar, não suportou o show particular de Henri Leconte em quadra, fazendo média com o público: xingou, discutiu com o árbitro, descontou na raquete. Resultado da partida: vitória do francês no tie-break do terceiro set. Na sequência, nenhum cumprimento ao adversário, entrevista ou autógrafos.

"Não gosto disso, nunca gostei. É desconcertante ter de jogar e ter um cara bancando palhaço", explica em longa entrevista ao jornal "The Sunday Times". "Ele provoca o pior em mim", chega a admitir.

Por outro lado, o americano reconhece a necessidade de manter o interesse do público. "Você sabe que eles esperam um show, querem se divertir. Por isso, me mantenho em forma e jogo o máximo que posso. Mas há outros elementos. As pessoas esperam que eu estoure, estão mais preocupadas comigo jogando a raquete no chão ou berrando com um juiz do que com a qualidade do meu jogo." Questionado sobre quanto era irritação genuína com Leconte e quanto era espetáculo, Big Mac não soube responder, mas disse que estava realmente incomodado com o francês. "Fora da quadra, consigo controlar melhorar as coisas. Mas dentro dela, é imprevisível."

Cansaço foi apontado por ele como uma das causas mais comuns para seu mau humor. "Tenho viajado mais do que gosto, ultimamente. Fui ver minha mulher (Patty Smyth) cantar em Los Angeles, cheguei aqui um dia mais tarde do que de costume. Tenho lutado com minhas costas, parece que não consigo me movimentar e isso é frustrante. E então tenho de enfrentar um cara como Leconte, que fica bancando o palhaço e todas as expectativas recaem sobre mim. Mas é por isso que nos pagam bem, não? Tenho de tentar e lidar com isso."

McEnroe com Borg, na BélgicaQuando tinha 25 anos, McEnroe não se imaginava jogando torneios veteranos nem sendo comentarista de TV. Mas sempre há um outro lado da questão. "Por que estou fazendo coisas que disse que não faria? Bem, devido a um certo grau de maturidade e reconhecimento da praticidade. Aos 25, você pensa que tem um leque de opções, mas mais tarde percebe que as opções não são necessariamente viáveis e quando fiquei mais velho, pareceu boa alternativa financeira e para me manter em forma."

McEnroe é lembrado pelo jornalista Paul Kimmage de que, de acordo com sua biografia, ele perguntou à mãe quanto dinheiro seria o suficiente para ele parar de jogar. Era 1986 e Big Mac voltava às competições após seis meses afastado. A decisão de retornar deixou os pais aliviados. "Quanto é o bastante? É uma boa pergunta: não tenho a resposta. Mas você já ouviu o ditado de que em cavalo dado não se olha os dentes?", retruca. "Por que deveria jogar isso fora? Para fazer o quê? Quais são as opções? Eles querem que eu jogue e é bom ser querido. De vez em quando, jogo bem, relembro os velhos tempos e tenho a ilusão de que ainda consigo jogar."

Para o americano, jogar o circuito de seniores e atuar como comentarista nas grandes competições é preferível a ter de comandar um talk show, por exemplo. Ele já passou pela experiência e não gostou do trabalho que chamou de "incrivelmente estressante mentalmente e desgastante". Imaginou sua situação se o programa fosse um sucesso e o convidassem para trabalhar 50 semanas por ano. "De repente, Liege não me parece tão ruim assim."

O assunto muda para o sueco Bjorn Borg, que está em São Paulo para a disputa da última etapa classificatória do circuito, antes do masters em Londres. "Ele é tremendamente único de várias formas. É um tipo físico inacreditável e mentalmente é dos mais duros. Possui mais senso de humor do que se pode esperar", diz. Mas quando eles se encontram, o assunto não é os grandes duelos que travaram no passado. "Na verdade, não, não acho isso interessante. Prefiro falar de política." Contemporâneo de Jimmy Connors e Vitas Gerulaitis, o americano se sente privilegiado. "Foi uma época tremenda para estar no tênis."

McEnroe e a esposa PattyDo tênis para a relação com a cantora Patty Smyth. "Você ainda está apaixonado por ela?" A resposta vem com certa hesitação. "Estou, mas acho frustrante quando não é ótimo todo o tempo. Gostaria que fosse como no início, quando se está realmente apaixonado. Mas ela diz: 'Hey, escute, estamos juntos há 13 anos!' E está certa. Acho que sou um pouco perfeccionista, miro alto demais." Ele reconhece que a relação perdeu um pouco da magia. "Sempre quero que seja como antigamente e ela diz que eu acabei de chegar de Liege e que está exausta por ter de lidar com as crianças e não dormir por cinco dias." Admira o trabalho da esposa e lamenta não tê-la visto atuar ao vivo no auge. "É uma tremenda performer, melhor do que 99% do pessoal que está por aí", garante.

Para McEnroe, disputar o circuito veterano, além de bom para suas finanças, lhe dá a oportunidade de se libertar de vez em quando das amarras do lar. "É mais fácil fazer isso, em que posso acordar ao meio-dia, por causa do fuso, e jogar algumas partidas, do que lidar com seis crianças, falar de cansaço e insatisfação. Sair me permite respirar, rejuvenescer e voltar me sentindo bem a respeito."



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