sábado, 6 de outubro de 2007

Jogo de Duplas

Jogo de Duplas

*Luiz Sisto
Técnico de Tênis de Campo


O jogo de simples é o máximo em tênis quanto à habilidade, pois é onde há maior gama de ataques e defesas, golpes, táticas e psicologia, mas as “duplas” tem seu próprio charme e fascinação. Muitos tenistas gostam mais de duplas do que simples provàvelmente porque tem menos trabalho, tem um parceiro a quem culpar na derrota e alguém para ouvir suas queixas durante o jogo, preenchendo melhor suas necessidades sociais do que na simples.

Dupla e simples são jogos completamente diferentes, no que se refere à maneira de usar os golpes. Simples é essencialmente um jogo de fundo da quadra, com ocasionais ataques na rede. Dupla é um jogo de rede, com a menor quantidade de jogo de fundo da quadra possível. Simples é um jogo de bolas golpeadas após picarem, na dupla é saque, voleio e esmache, acrescido da necessidade de se devolver o saque. Simples é o jogo da moderação, velocidade mediana, com lances de grande força e sutil finesse. Dupla é um jogo de extremos, ou todo um ataque tremendo ou vagarosas e delicadas finesse, praticamente sem nenhum golpe de força média. Isto é devido principalmente ao fato de os buracos serem menores numa quadra de duplas; dois tenistas estão cobrindo pouquíssimo mais território em duplas, do que um sozinho cobre em simples. Assim, você tem que arriscar muito mais para fazer seus golpes passarem pelos adversários.

No tênis de hoje em dia, os quatros tenistas estão na rede a maior parte do tempo. O parceiro do sacador está lá naturalmente e o sacador normalmente acompanha o seu saque, o parceiro do recebedor também fica na rede e o recebedor tenta seguir sua devolução, fazendo que os quatro tenistas se reúnam na rede, praticamente em todos os pontos.

Tal jogo dá margem a um tênis brilhante e sensacional, dá uma velocidade tremenda ao jogo, elimina longa troca de bolas e, ao mesmo tempo em que acarreta um número espantoso de erros, produz algumas jogadas incríveis.

Dupla sempre é, ou deveria ser uma batalha de saques. O saque dá o ataque e a posição na rede, para a dupla sacadora, e esta vantagem deve significar a vitória do game para ela. Uma quebra de serviço, em duplas, usualmente decide a série, uma vez que se reconheça isso, obviamente, o mais importante golpe em duplas é a devolução do saque, qualquer dupla que devolva todos os saques, vencerá qualquer partida. A mais eficiente devolução do saque em duplas, pouco mais requer do que controle, tudo que se deve tentar fazer é golpear cruzado e com força suficiente para que o jogador na rede não possa cortar sua devolução, e isto é tudo! Deixe o sacador, se puder volear. Não tente fazer o ponto com a devolução, dando tal força que o sacador não possa controlá-la, por que, se o fizer sua percentagem de erro será muito grande. A primeira grande regra da boa dupla é: “deixe que eles joguem”, o que quer dizer, ponha a sua devolução em jogo, iniciando o ponto e pondo no sacador a responsabilidade de continuá-lo. Uma vez respondido o saque, procure ganhar o ponto o mais cedo possível. Segundo lugar em importância, depois da devolução do saque, é o uso do lobe, é o favorito e, de fato, quase o único golpe de defesa em duplas, mesmo na devolução do saque vê-se o uso do lobe. Deve ser usualmente jogado como defesa, com tendência cruzado, bem fundo e ao meio da quadra adversária. Este tipo de lobe faz com que surja verta incerteza, entre a dupla adversária, sobre qual dos dois tenistas deve responder-lhe, ao passo que o lobe paralelo é sempre controlado pelo tenista sobre cuja cabeça é atirada. O lobe deve ser, sempre que possível esmachado no ar, não deixe a bola picar para esmachá-la, por que:

1. O controle do “tempo” é mais difícil.
2. Você terá que recuar muito.
3. Dar-lhe-á menos ângulo.
4. Dará ao adversário a oportunidade de tira-lhe a posição na rede.
5. Deixará seu parceiro sozinho na rede.

Nunca se esqueça que dupla é jogo de conjunto, toda a vez que golpear a bola, deverá levar em consideração, não somente a sua posição, como também a de seu parceiro. Você não pode fazer uma jogada que embora o salve, coloque seu parceiro em situação insustentável.

Posição em duplas é geralmente fruto de entendimento mútuo. Existem algumas regras gerais para o trabalho em conjunto que podem ser aprendidas, mas tais regras poderão ser desprezadas em qualquer momento, e um dos dois tenistas terá que apelar para aquela coisa chamada “antecipação” para salvar a situação. Aqui estão algumas generalidades:

1. Uma dupla trabalha como um todo, mas necessariamente na mesma linha. O tenista do lado em que à bola está deverá estar alguns pés mais próximo da rede, em frente à bola, enquanto seu parceiro cobre o centro da quadra, de ponto cerca de dois pés mais atrás. Se golpe seguinte é dirigido ao outro lado da quadra, o tenista que estava no meio avança em direção à rede, diretamente em frente à bola, enquanto seu parceiro recua um pouco e vai mais para o centro da quadra.

2. O tenista mais perto da rede, usualmente em frente à bola, deverá avançar e mesmo tentar cruzar, toda a vez que sentir que pode alcançar a bola e mata-la, não importa o quanto ele avançar no território de seu parceiro, mas, ao cruzar em frente ao parceiro, deverá terminar o ponto, ganhe ou perca. É imperdoável não terminá-lo, pois abriu completamente seu lado da quadra. Se não puder alcançar a bola cruzada para matá-la, então deve deixá-la passar para o parceiro que está cobrindo o centro e em boa posição.

3. A não ser que seja apanhado desequilibrado, cada tenista deve controlar as bolas que lhe passem por cima da cabeça, mesmo que tiver que deixá-la picar e tiver que recuar para golpeá-la do fundo da quadra. Se for compelido a fazer isso, seu parceiro deverá recuar para o fundo da quadra, do contrário ficará em posição insustentável, se os adversários avançarem, que é o que deverão fazer.

4. Se por qualquer razão seu parceiro cruzar por trás de você para esmachar, gritando é “minha”, para lhe avisar que vai fazê-lo, deixe que o faça. Conserve sua posição e não cruze, exceto quando seu parceiro gritar “cruza”, como um sinal para você.

Muitos técnicos recomendam o cruzamento automático, porém eu não recomendo por razões lógicas!

    • Se você conservar sua posição, seu parceiro saberá sempre onde você estará e fará a jogada tendo isso em mente, sabendo para onde deverá voltar, para cobrir a quadra dele.
    • Somente um dos jogadores estará se movimentando e fora de posição, deixando aberto e sem defesa somente o lugar para uma bola bem cruzada, ao passo que se você também estiver se movendo, ambos estarão fora de posição. Toda a quadra estará então vulnerável, particularmente o meio, entre os dois.
    • Você estará em condições, se quiser tentar matar a devolução cruzada.
    • Se seu parceiro gritar “cruza”, vá para o centro da quadra e fique bem perto da rede. Cuidado com a bola entre vocês, a devolução geralmente será ali.
    • Qualquer dos dois tenistas deverá sempre ter liberdade de cruzar em frente de seu parceiro, ou ir a qualquer lugar da quadra, fora de sua posição lógica, se, fazendo isso, puder matar a bola, entretanto, se resolver fazê-lo, faça-o sem vacilar.

A única necessidade absoluta para uma boa dupla é que haja atitude mútua de compreensão entre os parceiros. Deve ter confiança um no outro, completa certeza de que o parceiro está fazendo o melhor que pode o tempo todo, e cada um deve ter boa vontade em desculpar um erro que o outro cometa, uma tentativa, ou qualquer omissão em que ocorra. Nada liquida mais depressa uma dupla do que o atrito. Não tente conseguir sempre o melhor tenista como seu parceiro, se você e ele não combinam, não formarão um bom conjunto.

Tenha uma coisa firmemente em mente sobre como jogar dupla, não adianta você querer fazer o ponto contra uma dupla em boa posição na rede, batendo forte do fundo da quadra. Existem dois tenistas para cobrir os 10,97 cm de largura da quadra, não há lugar onde colocar a bola, antes de você ter conseguido tirar um, ou ambos da posição o suficiente para abrir um buraco. Quais são as maneiras de abrir os tais buracos? São poucas, porém definidas; Do fundo da quadra, você deverá golpear a bola por fora, entre os dois ou por cima dos adversários, “nunca através deles”. Para abrir a quadra por fora da dupla adversária, existem dois golpes lógicos:

1. A bola paralela pelo corredor, passando o jogador que está à sua frente, e que, se tentada, deverá sê-lo com um draive chapado e rápido.

2. Um golpe bastante cruzado e vagaroso, que poderá ser um draive lento, chapado, ou com topspin, ou um slice vagaroso. Ambos devem ser rasos e curtos.



A paralela, seja na devolução do saque, seja durante o jogo, é tentada para fazer o ponto e é sempre golpeada agressivamente. Não deve ser tentada tão a miúdo como a cruzada, pois, para ter sucesso, necessita o elemento surpresa. A cruzada é uma tentativa para fazer o adversário volear para cima, de modo a que você possa matar no golpe seguinte e não leva a mesma chance de fazer o ponto por si, como a paralela.

O mais usado e certamente o mais popular golpe é aquele endereçado ao meio dos dois oponentes e há várias razões para isso:

  • É mais fácil de executar e tem menos risco de erro.
  • Pode causar confusão entre os adversários sobre quem vai voleá-lo e talvez ambos o deixem passar ou ambos tentam golpear e se chocam ambas as coisas minando-lhe o entendimento e a confiança.
  • Oferece menor ângulo para o adversário dirigi-lo e tende a lhe dar oportunidade de fazer o ponto no golpe seguinte, endereçado às laterais, pois ambos os oponentes foram levados para o centro da quadra.

Se você decidir abrir a quadra adversária, indo por cima, o único gole é o lobe. É difícil tirar uma dupla da rede lobando, mas pode ser feito. Lobe alto, fundo e seguido, mas no momento que sentir tendência em seus oponentes de ficarem recuados, aguardando o lobe, mude para o draive e suba à rede. Se em qualquer ocasião você conseguir dar um lobe sobre a cabeça do adversário, que o obrigue a deixá-lo picar para golpeá-lo após o pique, vá para á rede imediatamente, um jogador cobrindo a devolução da paralela e outro fechando o centro da quadra. Deixe aberto o ângulo da cruzada para que tentem, acertarão uma e errarão dez, tentando-o.

Uma vez conseguido um buraco na quadra da dupla adversária não perca tempo em dar um golpe decisivo. Não há tempo, nem bastante lugar, para continuar trabalhando o ponto. Lembre-se sempre que velocidade média, exceto na devolução do serviço, não é bom. Para vencer é necessária maior velocidade ou, então, golpes realmente delicados e vagarosos. Cada um de seus golpes deverá ter o objetivo definido: ou liquidar o ponto, ou ajudá-lo a conquistar uma posição na rede que o possibilite.

Dupla é jogo de muito menor profundidade de bola do que em simples. A bola cruzada, o draive liftado e o slice curto e vagaroso, são usados muito mais do que o draive longo ou o lento e profundo chop. Tem-se muito menos tempo em dupla do que em simples e maiores riscos devem ser corridos. Em geral, nas duplas, os golpes são executados com movimento mais curtos, em posições mais próximas à bola, que muitas vezes se golpeia na subida, particularmente na devolução do saque. Isto é devido à necessidade de, se possível, subir à rede. Existe pouca defesa em duplas, além do uso de lobes altos.

Há uma tática, em duplas, que é muito valiosa. Decidir qual dos oponentes é mais fácil de ser tirado de jogo e então desde o princípio, começar a martelá-lo. Evite o outro parceiro o máximo possível e só jogue para aquele. Tal tática o cansará, física e mentalmente, e seu parceiro se tornará impaciente e poderá cometer o erro de tentar entrar em bolas, em que seria muito melhor não se meter. Isto poderá causar atrito entre os dois e quebrar-lhes o rendimento e o entendimento.

Se você descobrir um ponto fraco no jogo do adversário, fore-o sempre que tiver uma oportunidade, pois nada quebra mais a moral de uma dupla do que um dos parceiros errar continuadamente a mesma bola. Um dos pontos comumente vulnerável de uma dupla é o esmache e se um dos jogadores começar a errar o esmache, lobe-o até não poder mais. Lobe para ele e, toda a oportunidade que lhe parecer lógica. Esmache, mais do que qualquer outro golpe, depende de confiança. Uma vez abala a confiança de um jogador, seus esmaches perderão toda a efetividade, quando acertados, e serão errados a maioria das vezes.

Se você encontrar um oponente com saque realmente fraco, desse que pedem para se arrasados, golpeie diretamente em cima do adversário que está na rede. Atire-lhe a bola em cima com força. Você verá que seu voleio bem cedo se arruinará, sob tal bombardeio e a dupla adversária perderá a confiança, mormente nos games desse serviço. Uma dupla se parece um pouco com uma barragem de água. Uma pequena rachadura em seu entendimento prontamente se alargará e uma enxurrada de erros a levará à derrota.


Adaptação do livro
“How to Play Better Tennis”
– Wiiliam T. Tilden – 1950.

By Luiz Sisto®
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